IMPACTOS DAS QUEIMADAS E CHUVAS: Presidente da Comissão de Agricultura da ALE-RR visita produtores rurais de Mucajaí
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25/05/2024 12H56
Visita técnica tem como objetivo subsidiar um plano de trabalho emergencial para a atividade da pecuária e agricultura da região / Foto: Eduardo Andrade /
A combinação devastadora de queimadas e chuvas intensas deste ano provocou um impacto sem precedentes na produção de pecuária e agricultura de Mucajaí, afetando pelo menos cinco regiões: Apiaú, Penha, Roxinho, Vila Nova e Samaúma. O pecuarista Mário Vieira, de 63 anos, que fugiu da seca do Ceará em 1989 para o Roraima, agora presencia a morte de seus animais em sua propriedade na vicinal 3 em Samaúma, após o pasto ser coberto por lagartas.
“Perdi quatro vacas e seis bezerros. Já viu uma vaca morrendo? Elas ficam três ou quatro dias deitadas no chão, e eu não tenho coragem de matá-las. Quando você chega perto delas, elas estão com lágrimas nos olhos”, desabafou o produtor, que não tem dinheiro para transportar o restante do rebanho para outra região (cada cabeça de gado custa R$ 40,00 para ser transportada).
Em resposta à calamidade, a Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca, Aquicultura e Política Rural da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) mobilizou-se para verificar naquelas localidades a real situação e encontrar soluções para a recuperação das localidades.
“Estamos colhendo imagens e depoimentos para embasarmos nossas ações. O que vimos parte o coração. Relatos de senhores e senhoras que choram, que passaram a vida produzindo em uma propriedade rural e hoje veem tudo acabar de um dia para o outro. Um gado fraco, um gado morrendo a cada dia, a cada momento, sem ter o que comer por causa da praga de lagartas que se espalhou por toda essa região. Sem falar que já enfrentaram um inverno rigoroso e um verão intenso”, explicou o presidente da comissão, deputado Armando Neto (PL).
Visita técnica
A visita começou nas vicinais 1, 2, 3 e 4 da Vila de Samaúma. A cada pequena propriedade visitada, a comissão se deparava com a realidade das famílias que dedicaram suas vidas ao campo e não escondiam mais os olhos marejados diante do gado morto, magro ou prestes a sucumbir.
Nas estradas de barro irregulares que levam à propriedade do pecuarista Pedro dos Santos, de 72 anos, que trabalha com gado desde os sete anos e é produtor na vicinal 4 há 22 anos, a situação se repete.
“Enfrentamos uma estiagem muito forte e fazíamos o que podíamos. Após o fogo passar, veio a chuva, e quando o capim começou a se recuperar, surgiu a praga. O resultado disso é esse: não tenho mais dinheiro para manter as cabeças de gado. Já morreram muitos animais; até agora, contei 48. Todos os produtores do norte de Sumaúma estão nessa situação, não é só aqui” contou o produtor enquanto segurava as lágrimas.
Além da perda da produção, os agricultores enfrentam outro problema: a impossibilidade de honrar os compromissos bancários. O preço do gado despencou de R$ 12,00 para irrisórios R$ 4,00, com pagamento adiado por seis meses.
Santos reforçou que a crise não se restringe à região, mas é sistêmica, pois o setor agropecuário é base da segurança alimentar. Ou seja, auxiliar o homem do campo é garantir o alimento na mesa de todos.
“Precisamos urgente de máquinas, de suporte financeiro. Eu tenho empréstimo para vencer e não consigo honrar. Precisamos comprar sementes, porque, se não, vai faltar comida na nossa mesa. Quem produz a carne, a mandioca, o tomate, a banana, somos nós, e só Deus e os homens do poder podem nos ajudar”, ponderou o pecuarista.
De acordo com o produtor da vicinal 3, Antônio Marcos da Silva, de 51 anos, que mora na região desde 1986, a falta de infraestrutura também dificulta a situação calamitosa.
“Então, além do gado morrer, a gente não tem como retirá-lo, porque não temos estradas, não temos pontes, e vai ficando cada vez pior, porque os animais gordos estão emagrecendo e os magros estão morrendo. Meu gado hoje não dá pra vender para comprar semente para arar a terra que a gente tem, fora o crédito que a gente tem no banco e que precisamos pagar”, complementou.
Providências
Em direção à Vila Nova, nas vicinais 6 e 10, o cenário não difere muito. Durante o trajeto, é comum encontrar carcaças de animais, um banquete para os urubus, ou mesmo vacas esquálidas que dão seus últimos suspiros à beira da estrada. A fome que assolou a região aguarda fazer mais uma vítima.
Na comunidade, o parlamentar Armando Neto reuniu-se com um grupo de moradores, acompanhado pelo vice-prefeito de Mucajaí, Cleude Rodrigues (Solidariedade). Entre os desabafos, o agricultor e pecuarista Luís Oliveira, de 59 anos, que veio do Maranhão em 1996 e mudou-se para a vicinal 10 em 1998, compartilhou a ‘situação sem precedentes’.
“A raiz do capim está morta, não há como esse capim ser renovado. Não temos também onde comprar capim. Aqueles que vêm de fora já não estão mais disponíveis. Nem todo mundo tem condições de comprar. Então, a situação piora mais, pois falta dinheiro até para comprar sementes. Hoje mesmo vi uma vaca morta, e bezerros pequenos também estão morrendo. Estamos em uma situação emergencial e pedimos ao governador e às autoridades do nosso estado que nos ajudem”, ressaltou Oliveira.
Após a reunião, o presidente da comissão explicou os próximos passos da visita técnica. Na próxima semana, haverá uma audiência com o Banco do Brasil para discutir o refinanciamento das dívidas dos produtores impactados. O objetivo é oferecer condições flexíveis para que os agricultores honrem seus compromissos sem comprometer a viabilidade de suas propriedades.
“É fundamental que o banco compreenda essa situação, e levarei essa questão para discussão com as instituições financeiras, buscando alternativas para os produtores”, afirmou.
O deputado também se comprometeu a mobilizar o parlamento e os órgãos do Poder Executivo ligados à pasta da agricultura, para discutir a criação de uma força-tarefa emergencial.
“Vamos agendar uma audiência com o governador [Antonio] Denarium e com o secretário da Agricultura, além de contatar o IATER [Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural], para que possamos organizar uma força-tarefa. O risco de perder toda a lavoura, criação e crédito bancário é evidente. Temos a obrigação de agir. Levarei essa questão à Assembleia por meio da comissão, para compartilhar com nossos colegas e buscar uma união de esforços, tentando ampliar o apoio à sociedade”, adiantou.
Na avaliação de Cleude Rodrigues, a escuta ativa dos moradores é crucial para mobilizar os poderes públicos e minimizar os impactos da crise.
“Como vice-prefeito de Mucajaí, reconheço a necessidade de união de esforços. Neste momento, o governo do Estado, a Assembleia Legislativa e a prefeitura devem se unir para auxiliar os agricultores em situação de extrema necessidade. A reunião de hoje foi um passo importante. O deputado Armando Neto, como presidente da comissão, presenciou a realidade local e conversou com os produtores. Acredito que ele levará nossas demandas ao governador e buscará as soluções necessárias”, destacou o vice-prefeito.
Os registros fotográficos da visita técnica da Comissão de Agricultura e Pecuária ao interior do município de Mucajaí estão disponíveis no Flickr do Poder Legislativo.
SUELLEN GURGEL
Categoria:Política