LIVRE DE AFTOSA: Após 14 anos chega ao fim o trabalho da Agulha Oficial em Roraima

Para o governador Antonio Denariu, a Agulha Oficial foi fundamental para garantir Roraima área livre de febre aftosa / Foto: Ascom/Aderr /

A Agulha Oficial chega ao fim em Roraima depois de 14 anos de vacinação nas comunidades das terras indígenas da Raposa/Serra do Sol e São Marcos. O trabalho executado pelo Governo do Estado por meio da Aderr (Agência de Defesa Agropecuária de Roraima), em parceria com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) foi concluído com êxito.

A vacinação realizada nessas áreas indígenas durante esses anos foi de extrema importância para assegurar a defesa da sanidade animal numa região de fronteira, marcando presença do poder público no trabalho e dedicação dos técnicos da Aderr e da Superintendência do Mapa em Roraima.

Para executar as ações da Agulha Oficial, eles enfrentaram muitas adversidades, ajudando a alavancar o status sanitário do Estado, que agora passará a ostentar o título de “Livre de Febre Aftosa sem Vacinação”.

“A Agulha Oficial foi fundamental para garantir Roraima área livre de febre aftosa. Sem ela não teríamos como garantir a sanidade dos animais na fronteira. Fico feliz porque o Governo do Estado foi parceiro e esteve presente com todo apoio para que os objetivos fossem alcançados. Agradeço a todos os servidores vacinadores pela forma como se dedicaram à Agulha, com empenho e dinamismo, chegando em lugares onde é difícil o serviço público, mas eles lá estiveram e realizaram um excelente trabalho”, enfatizou o governador Antonio Denarium.

ENCERRAMENTO

Na sexta-feira, 19, Dia dos Povos Indígenas, na Comunidade da Placa, em Pacaraima, foi realizada uma confraternização final que reuniu os vacinadores, diretores da Aderr e da Superintendência de Agricultura, além de lideranças indígenas que foram agradecer o trabalho de imunização executado nos últimos anos que garantiu a sanidade dos animais e o desenvolvimento da pecuária na reserva.

Crianças indígenas estudantes da Escola Estadual Amooko Fausto Andrade entoaram cantos de despedida, emocionando os presentes. O 1º tuxaua da Comunidade Triunfo, Elenilson Alves, disse que o sentimento é de gratidão pelo apoio da Agulha Oficial. “Nós só temos que agradecer por tudo que eles fizeram. A vacinação contra febre aftosa deu segurança ao nosso gado”, afirmou

O presidente da Aderr, Marcelo Parisi, ressaltou que a Agulha Oficial concluiu com louvor as ações de imunização do rebanho em terras indígenas. “Agradeço a todos os servidores que entregaram, durante esses 14 anos, um serviço de qualidade, sendo verdadeiros guardiões da defesa animal nessa região de fronteira, colaborando muito com nossa conquista do status de área livre de febre aftosa sem vacinação”, avaliou Parisi.

O INÍCIO

No início da década de 1980, vacinadores do Ministério da Agricultura começaram o trabalho de vacinação contra febre aftosa no rebanho das comunidades indígenas da região da Raposa/Serra do Sol e São Marcos. A preocupação com a doença e as consequências da disseminação em outros Estados do País já era uma realidade há 44 anos.
 
Segundo os pioneiros dessa missão em terras indígenas, o trabalho feito naquela época pelos vacinadores, realizando ações pelo Pronasa (Programa Nacional de Saúde Animal), foi difícil por causa das inúmeras dificuldades, mas a vontade de executar o serviço e garantir a sanidade animal foi maior, e eles conseguiram levar a vacinação até os limites da fronteira da Venezuela e da Guiana.

Eles foram os garantidores da sanidade animal indígena quando ainda não havia a Agulha Oficial. De acordo com o técnico da Superintendência do Mapa, José Maria, um dos primeiros vacinadores, os deslocamentos entre as comunidades eram feitos em um veículo Fiat 147, que levava uma caixa de isopor com as vacinas e dois servidores.

Nessa época havia apenas algumas dezenas de cabeças de gado para vacinar, poucos currais com a estrutura mínima para prender os animais, acesso difícil para se chegar às localidades, dificuldade de juntar os animais, que pastoreavam livres pelo lavrado.

“Não tínhamos colaboradores dentro da reserva e demandou tempo para conquistarmos os indígenas, por causa da barreira cultural. Hoje estamos comemorando mais uma etapa vencida com êxito e a última edição da Agulha Oficial.” Observou José Maria.
 
O PROGRAMA

A Agulha Oficial, como é conhecida atualmente, foi criada em 2010. Mas mesmo nessa época as dificuldades ainda eram grandes. De acordo com os fiscais agropecuários que fizeram parte da vacinação da primeira ação do programa, muitas dificuldades foram enfrentadas para conseguir realizar os serviços.

Eles relatam que não existia cadastro georreferenciado para chegar às comunidades, vias de acesso muito precárias, além da falta de meios de comunicação que facilitasse o trabalho.

Para descobrir onde tinha gado eles perguntavam aos indígenas. A informação foi boca a boca para achar a última rês criada em lugares inacessíveis, atravessando igarapés, matas, atoleiros até chegar ao local onde estavam os animais a serem vacinados. Esta dedicação dos fiscais despertou nos indígenas a vontade de colaborar, mesmo com a desconfiança inicial.

Havia focos de resistência por parte das comunidades, como recorda o médico veterinário e fiscal agropecuário Sylvio Botelho. Os indígenas tinham desconfiança, pois não conheciam direito a importância de vacinar os seus rebanhos.

“Depois que eles entenderam a necessidade de imunizar o gado para livrar os animais da doença, eles se tornaram parceiros”, disse Botelho.

A organização das comunidades facilitou o trabalho da Agulha Oficial. Foram feitas inúmeras reuniões com entidades e associações responsáveis pela organização dos povos indígenas e isso ajudou muito na implantação dos primeiros trabalhos, tornando mais efetiva a vacinação pela Agulha.

TRABALHO ATUAL

Nas últimas ações da Agulha Oficial, os servidores já podiam contar com rotas georreferenciadas, comunicação por internet, adesão em massa dos indígenas, melhorias nas estruturas físicas, dentre outros benefícios que facilitam os trabalhos dos técnicos.
 
“Antes eram 15 equipes, agora são seis. O trabalho era no laço, agora tem bons currais para trabalhar,” destacou o coordenador agropecuário da região norte de Roraima, Gelb Platão.

ELIAS VENÂNCIO

Categoria:Política

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