Mais transmissível e menos letal: o caminho possível da evolução do coronavírus

O novo coronavírus, aqui em imagem conceitual, matou cinco milhões de pessoas e segue sofrendo mutações. A humanidade ainda tem muitas perguntas a responder sobre ele / Foto: Getty Images /

É bastante provável que o coronavírus já estivesse circulando entre humanos em 2019, mas palavras como Sars-Cov-2 e Covid-19 não faziam parte do vocabulário corrente. Dois anos depois, o surgimento de variantes como a Ômicron, identificada na África, lança dúvidas sobre o futuro.

Quando, enfim, poderemos falar em fim da pandemia? O Sars-Cov2 seguirá evoluindo indefinidamente? Surgirão novas variantes mais letais? Mais transmissíveis?

Se dois anos são nada em termos de história da humanidade — e para o desenvolvimento científico —, a capacidade desse vírus de se alastrar é a única explicação para o novo mundo que está sendo construído sobre os escombros da maior epidemia desta geração.

Com todo o cuidado emprestado da própria ciência — que não tem problema algum em revisitar conceitos, atualizá-los, confrontá-los e, sempre que necessário, corrigi-los —, não devemos esperar a erradicação completa do coronavírus.

O mais provável é que o vírus se torne cada vez mais transmissível e cada vez menos letal. E a humanidade aprenda a conviver com ele, neste tal novo normal.

Pelo menos é o que indica o conhecimento científico acumulado nesse curtíssimo espaço de tempo em que um vírus até então desconhecido passou a infectar pessoas, espalhou-se pelo mundo, matou mais de 5 milhões de seres humanos, precipitou uma corrida inédita pelo desenvolvimento de vacinas, quebrou economias, desmascarou negacionistas e escancarou desigualdades sociais, financeiras e educacionais.

Apesar de o vírus não ser exatamente um ser vivo, seu mecanismo de evolução é muito similar. Esses processos são consequência de aleatoriedades que se adaptam melhor — acidentes bem-sucedidos.

Como explica o médico infectologista e sociólogo Ricardo Palacios, ex-diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, “não existe vírus inteligente”, portanto esse “não é um processo planejado”. “Acontece por acaso.”

As mutações do coronavírus

“Os vírus se replicam infectando células e gerando um mecanismo de criar cópias nessas células. Esses mecanismos não são perfeitos e muitos erros acontecem no processo, originando mutações. Na maior parte dos casos, esses vírus com mutação não são viáveis. Mas, eventualmente, há mutações que conferem uma vantagem sobre o vírus originário”, contextualiza Palacios.

Um exemplo: se uma mutação torna a versão mais transmissível, ela acaba se replicando mais e mais rapidamente.

“Os vírus evoluem em resposta a pressões do hospedeiro que bloqueiam ou limitam sua multiplicação”, esclarece o farmacêutico Oscar Bruna-Romero, professor do departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia na Universidade Federal de Santa Catarina.

“Existem várias possibilidades de pressão, sendo as mais importantes as celulares, quando o vírus muda para infectar outras células ou hospedeiros, passando por exemplo de um animal para o homem, e as pressões imunológicas, que levam a tentar fugir do nosso sistema imune mudando as partes do vírus que são enxergadas pelos nossos anticorpos e linfócitos.”

De acordo com o professor, se a evolução é algo normal em todos os seres, em vírus se trata de um processo muito acelerado, por conta de “sua simplicidade genética e capacidade altíssima de multiplicação”. Poucos vírus conseguem em pouco tempo gerar bilhões de cópias em um humano infectado.

É por isso que medidas de contenção — distanciamento social, máscaras, higienização — são importantes.

“Se o vírus tiver muita oportunidade de infectar muitos hospedeiros e replicar, ele estará fazendo mais e mais apostas [com o acaso]. Eventualmente, alguma que ele fizer pode trazer algum benefício a ele. E é isso que queremos evitar”, pontua a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise Covid-19.

Já que as mutações são obra do acaso, é questão de proporcionalidade. Obviamente quanto mais o vírus se espalha, mais mutações ocorrem.

No caso da Covid-19, os cientistas até o momento identificaram cinco linhagens que foram especialmente bem-sucedidas nessa evolução. Elas foram batizadas com as letras gregas Alfa, Beta, Gama, Delta e Ômicron. Entre os pesquisadores, são chamadas de VOC, da sigla em inglês para “variantes de preocupação”.

Apesar de terem características próprias, elas também não deixam de apresentar mutações. Por isso, os cientistas têm monitorado as subvariantes — pequenas alterações genômicas dentro de uma linhagem —, receosos do surgimento de novas VOCs.

“[As análises] mostram que essas variantes estão evoluindo, criando novos ramos evolutivos, e isso traz implicações tanto na necessidade de vigilância genômica para monitorá-las, quanto na necessidade de implementar medidas mais efetivas para controle dessa transmissão”, explica Fontes-Dutra.

“A subvariante, ou sublinhagem, no geral é uma ‘descendente’ de uma linhagem conhecida”, acrescenta.

No caso da recém-descoberta variante Ômicron, uma das principais questões é verificar se ela irá superar outras cepas.

“Qualquer variante que venha a concorrer com a Delta deverá ter mutações que tragam características de maior transmissão que ela. Essa é a grande preocupação com a nova variante detectada em amostras de Botsuana e que conseguiu substituir à variante Delta na Provincia de Gauteng, na África do Sul”, afirma Ricardo Palacios, ex-diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan.

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FONTE: CNN BRASIL
Categoria:Saúde

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