Assembleia Legislativa de Roraima destaca história inspiradora e reafirma compromisso com a inclusão e os direitos das pessoas com deficiência / Foto: Claudinei Sampaio /
“Antes eu enxergava, mas não via. Hoje eu não enxergo, mas vejo”. É assim que se identifica André Luiz Pereira da Silva, 44 anos, morador de Boa Vista e montador de fogões há mais de duas décadas. Ele perdeu a visão há 15 anos, após um grave acidente de moto ocorrido no município de Caracaraí, região sul de Roraima. Desde então, sua vida foi transformada por completo.
O impacto contra a quina de um banco de concreto em uma praça causou afundamento no rosto, com fraturas graves que exigiram a colocação de platinas dos dois lados e telas de contenção, teve ainda o nariz quebrado, uma fissura no palato e precisou fazer outros reparos decorrentes do trauma. Apesar das sequelas e da perda total da visão, André decidiu não desistir.
Na época, ele já trabalhava com conserto de fogões como funcionário de uma empresa especializada. Após o acidente, aposentou-se, mas não abandonou o ofício. Ao lado da esposa, Izalete Matheus da Silva, com quem é casado há mais de 20 anos e tem três filhos, reinventou a maneira de trabalhar.
Izalete tornou-se sua parceira de negócios e braço direito. Ela que dirige o carro e leva o marido até as casas dos clientes para consertar os fogões. “A deficiência dele é só na locomoção. Ele faz tudo. Quando chegamos, levo ele até o fogão e de lá ele resolve”, conta.
Inicialmente, André atendia apenas conhecidos, mas com o tempo e dedicação, conquistou nova clientela. Nas redes sociais, ele também ganhou espaço com vídeos mostrando sua habilidade, sempre acompanhado do trocadilho: “Posso não ver seu fogão, mas tenho a solução.” Os serviços incluem limpeza, desentupimento de bocas, troca de peças e conserto de fornos – desde modelos industriais até modernos cooktops.
Setembro Verde
Histórias como a de André ilustram o verdadeiro significado do Setembro Verde, mês dedicado à conscientização sobre os direitos e à valorização da pessoa com deficiência. Em Roraima, a Lei nº 1.581/2021, de autoria da ex-deputada Yonny Pedroso, instituiu o Setembro Verde no calendário oficial do estado.
O mês busca ampliar a visibilidade da pauta da inclusão, fomentar políticas públicas voltadas à saúde, educação, lazer, empregabilidade e acessibilidade, além de combater o capacitismo, preconceito estrutural contra pessoas com deficiência, baseado na ideia de que elas são menos capazes. O dia 21 de setembro é especialmente simbólico, pois marca o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. Em Roraima, também é reconhecido como o Dia de Conscientização sobre o Capacitismo, conforme a Lei nº 1.712/2022.
Outra legislação estadual importante é a Lei nº 1.017/2015, do ex-deputado Oleno Matos, que institui a Semana da Pessoa com Deficiência, celebrada anualmente entre os dias 21 e 27 de setembro. A Assembleia Legislativa de Roraima (ALERR) tem trabalhado para garantir a efetivação desses direitos.
De acordo com o presidente da Casa, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), o parlamento estadual está comprometido em legislar e fiscalizar políticas que promovam a inclusão e a acessibilidade. “Legislar por quem mais precisa é um dos nossos deveres. O Setembro Verde é um momento simbólico, mas a luta é diária. Temos avançado com leis, audiências públicas e emendas parlamentares para fortalecer a rede de apoio às pessoas com deficiência em Roraima”, afirmou.
Além da atuação da ALERR, o estado conta com o Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência (COED-RR), que é vinculado à Setrabes e sediado na Casa dos Conselhos, presidido atualmente por Maria Lúcia Lucena. O conselho é responsável por fiscalizar e normatizar os direitos das pessoas com deficiência no estado. O atendimento ocorre de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h, ou pelo e-mail coedrr@gmail.com.
Segundo Maria Lúcia, as denúncias mais comuns envolvem a falta de cuidadores em escolas, ausência de intérpretes de Libras para alunos surdos e barreiras de acessibilidade em serviços públicos. Ao receber as queixas, o conselho entra em contato com os órgãos responsáveis para buscar soluções.
Em Roraima, cerca de 5,6% da população têm algum tipo de deficiência
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que aproximadamente 5,6% da população do estado vive com algum tipo de deficiência. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pela ONU em 2006, define pessoa com deficiência como aquela que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial que, em interação com diversas barreiras, possa ter sua participação plena e efetiva na sociedade obstruída, em igualdade de condições com as demais.
Inúmeras leis aprovadas pelos deputados estaduais reafirmam o compromisso da Assembleia Legislativa com as pessoas com deficiência. Além das já mencionadas, há normas estaduais que garantem gratuidade no transporte público, prioridade no atendimento, acessibilidade arquitetônica em prédios públicos e privados, além da presença de intérpretes de Libras em eventos oficiais.
BÁRBARA CARVALHO