A expectativa é que a visita ocorra até o final de outubro, mas não há uma data fechada / Foto: Divulgação /
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara viagem à Terra Indígena Yanomami nas próximas semanas após críticas de lideranças indígenas à gestão federal na região. A expectativa é que a visita ocorra no próximo mês, até o final de outubro, mas não há uma data fechada. Lula vai inaugurar o Centro de Referência em Saúde Indígena na comunidade de Surucucu, no centro do território, que prestará assistência médica aos ianomâmis. No início do governo, em 2023, uma grave crise humanitária no território com desnutrição, doenças infecciosas e violência causada pelo garimpo ilegal foi noticiada, obrigando o presidente a adotar medidas emergenciais.
A comunidade de Surucucu, bem como grande parte da Terra Indígena, é de difícil acesso. Em discursos recentes, Lula disse que será o primeiro presidente da República a ir até a região.
"Dizem que é perigoso ir lá. Eu vou, porque aqueles indígenas estavam no Brasil antes de os portugueses chegarem aqui, então nós temos a obrigação de tratá-los com respeito. Eles são brasileiros, e o presidente da República tem que estar lá com eles", afirmou Lula durante o lançamento do programa Gás do Povo, em Belo Horizonte, no dia 4 de setembro.
Foi a primeira vez que ele comentou sobre a viagem. Questionada sobre o compromisso, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) não deu detalhes, e respondeu que as informações são divulgadas após a confirmação.
O governo intensificou ações na Terra Yanomami após reclamações das lideranças indígenas. Em julho, sete representantes de entidades enviaram ao governo uma carta cobrando os detalhes sobre a inauguração do centro de saúde, maior participação dos ianomâmis na tomada de decisão, a aplicação de medidas para combater a contaminação por mercúrio — metal tóxico usado no carimbo — e falta de transparência dos dados da saúde.
"Nós, lideranças das Associações, sofremos com a falta de informações transparentes sobre os dados de saúde da Terra Indígena Yanomami, sobre a contratação de funcionários e agentes indígenas de Saúde e sobre as avaliações periódicas de desempenho dos profissionais de saúde, que deveriam ser encaminhadas pela gestão sediada em Brasília", diz o texto.
"Além disso, não há informações sobre o 'Centro de Saúde' em Surucucu, fruto da ação da Central Única das Favelas (Cufa), Frente Nacional Antirracista com o apoio da sociedade civil, de empresas e do Governo Federal. Não sabemos seu nível de complexidade no atendimento, sua abrangência territorial, sua data de inauguração, e sua previsão de recebimento de materiais hospitalares e suprimentos. Não sabemos nem mesmo o nome do empreendimento!", acrescenta. A carta foi assinada no dia 18 de julho.
Desde então, o governo federal intensificou as ações. Em 6 de setembro, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, visitou o Centro de Saúde e marcou o início dos atendimentos na estrutura. Segundo a pasta, com investimento de R$ 29 milhões, o local terá uma equipe de 164 pessoas, sendo 114 profissionais da saúde, com capacidade para acolher até 120 pacientes e seus acompanhantes de uma vez. Ele atenderá 10 mil indígenas de 60 comunidades da região. Na visita, Padilha disse ainda que o governo quer construir mais estruturas.
"O nosso compromisso é superar de vez o risco de genocídio que passou o povo Yanomami. Vamos entregar outras duas unidades até o final do próximo ano, além da reestruturação da Casai (Casa de Saúde Indígena) em Boa Vista e da parceria com o Hospital Universitário", disse o ministro.
Desafios presentes
O Ministério da Saúde destaca que houve redução no número de mortes após a intervenção do governo federal. Foram 33% menos óbitos no geral no primeiro semestre de 2025 em comparação com o mesmo período de 2023, no auge da crise. Também caíram em 45% as mortes por doenças respiratórias, em 65% por malária e em 74% por desnutrição. Porém, ainda há desafios.
O número de casos de malária aumentou cerca de 10% em 2024 em relação a 2023, com 33 mil registros. O valor é maior do que a população do território, de 32 mil habitantes, mas casos de reincidência são comuns. Além disso, um estudo divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no ano passado mostrou que todos os moradores de nove aldeias da Terra Indígena estavam contaminados por mercúrio.
As comunidades ficavam próximas a garimpos. A coleta das amostras foi realizada em outubro de 2022, antes da força-tarefa implementada pelo atual governo.
Em resposta, a Fiocruz, junto com os ministérios dos Povos Indígenas e da Saúde, lançou, em maio deste ano, um manual para orientar ações de atendimento médico para indígenas com contaminação de mercúrio. Na carta enviada em julho, as lideranças ianomâmis também afirmaram que o manual não havia sido implementado ainda.
"Tal documento, concebido com o intuito de orientar condutas clínicas e de vigilância em saúde frente ao grave cenário de contaminação mercurial na TI Yanomami, permanece sem qualquer previsão de aplicabilidade prática. Os profissionais de saúde que atuam em campo ainda não receberam treinamento específico, evidenciando mais uma vez a desconexão entre a formulação e a execução das políticas públicas voltadas às populações indígenas", disseram as associações.
Após a publicação da carta, ainda em julho, o Ministério do Meio Ambiente enviou uma equipe ao local para monitorar os níveis de metal no ambiente.
Já sobre a presença do garimpo ilegal no território, apesar de ainda haver atividade, ela foi reduzida em 98% desde março de 2024, com a abertura da Casa de Governo, uma estrutura de vários ministérios que coordena ações na terra Yanomami. Com a visita do presidente Lula ao território, a expectativa é que mais iniciativas sejam anunciadas para reforçar o atendimento na região.
FONTE: CORREIO BRASILIENSE